quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Eu não sou santo...

é claro que não! Tenho meus deslizes, embora tenha tido uma boa formação escolar comparando-se com a média geral. Estudei em escola pública quase toda vida e vim de uma família classe média que sofreu para vencer e manter-se estável. Esta família me passou uma formação moral exemplar e, se ainda tenho meus deslizes, é por minha conta como indivíduo. Talvez se esta formação fosse mais frouxa, meus deslizes seriam maiores e entrariam na faixa da criminalidade. Quem sabe? Mas eu cumpro o máximo possível meus deveres familiares, profissionais e sociais, o que cria ao me redor um ambiente estável, desde que não seja invadido por pessoas sem o mesmo padrão de comportamento. É claro que este tipo de invasão é comum, faz parte da evolução individual e coletiva. Evoluímos por atrito e crescemos sabendo conviver com as diferenças. Quando alguém de padrão de comportamento diferente causa algum abalo no meu meio é preciso que, rapidamente, eu consiga restabelecer o equilíbrio, para mitigar as consequências. Quanto maior a diferença de padrão, mas difícil restabelecer o equilíbrio.
           Devo causar abalos em ambientes mais equilibrados que o meu, certamente. Estar atento a isso e procurar evitar abalos em ambientes "dos outros" faz parte também da evolução. Além de evitar causar abalos, melhor ainda é se eu souber copiar modelos de equilíbrio que possam ser úteis para melhorar o meu ambiente.
         Contudo, vivemos uma sociedade opressiva. Como brasileiros, o atrito é intenso. Violência e falta de cidadania são gritantes e produz um efeito terrível na construção de barreiras ao redor do nosso ambiente. Uma construção tão intensa que abala o próprio crescimento do indivíduo dentro destes ambiente, por que acabamos nos isolando, ficando desconfiados, irritados e até agressivos com invasões que poderiam até ser naturais ou benéficas. A construção de muros é um fator de estagnação em vários quesitos evolutivos, porque, com muros de proteção altos, fico mais à vontade com meus "pequenos deslizes". Torno-me conivente com meus erros e, porque não, me comparo com mais facilidade com um turbilhão de erros evidentes maiores que o meu. Acabo me achando "o cara". Que desastre!
          A situação social, política e econômica no Brasil está desastrosa. Quando vemos a lei ser burlada com escracho por quem tem algum poder; quando vemos o desleixo com nossos direitos e dinheiro por parte da classe política; quando vemos que a falta de investimento em saneamento básico nos ameaça de morte dentro das nossas casas; quando vemos que professores lutam insanamente pela sobrevivência enquanto que um mísero vereador iletrado consegue ganhar o suficiente para viver como rei; quando vemos que escolaridade é palavra nobre só em campanha eleitoral; quando vemos que segurança é confundida com truculência por uma polícia mal formada e que não há investimentos dos governos para termos uma polícia adequada; quando vemos que a imoral quantidade de impostos que pagamos não retorna em nada além de corrupção e deboche; quando vemos famílias mortas, pessoas mortas, por bandidos que não têm a mínima noção de respeito à vida; quando vemos machismo, feminismo, homofobia, xenofobia, racismo, sendo usadas por interesses de ideologias sem traços de humanidade; quando vemos homens públicos fazendo dinheiro com merenda escolar (meu Deus!!!); quando vemos o grande bordel que virou Brasília, ou bordéis, porque cada poder tem suas putas próprias, com todo respeito às profissionais do sexo. Quando vemos tanta coisa que faz este caldo de amarguras que se tornou o doce e maravilhoso Brasil, nos sentimos acuados em nosso pequeno ambiente de equilíbrio.
         Eu me sinto assim, acuado. Eu, com meus deslizes e meu padrão de comportamento. Imagine os que têm um padrão de comportamento melhor. E pensem no que acontece com os que têm um padrão pior... não vão se sentir estimulados a expandirem seus ambientes próprios? É... a expansão do mal na nossa sociedade é inevitável , enquanto tudo se mantiver assim, e não há como implantar modelos sociais ou aplicar ideologias de esquerda, direita ou centro, ou seja lá que ideologia for, se esta sociedade não for amparada pela lei. Lei é proteção. Lei é o valor máximo da sociedade, principalmente quando o padrão de comportamento dos diversos ambientes comportam tamanhas disparidades. Infelizmente estamos muito longe de qualquer padrão de igualdade humana, tamanha nossas disparidades. Porém, somos iguais perante a lei. Somente a lei é capaz, no momento, de produzir igualdade. Se a lei não for refletida, contemporizada e, acima de tudo, respeitada, caminharemos rapidamente para a bancarrota social que poderá nos levar à ditaduras mais perversas do que a que estamos vivendo. Quem é mais velho sabe do que estou falando.
         Eu não sou santo, tenho meus erros, mas estes erros, em hipótese alguma podem justificar erros dos que estão no ápice da hierarquia social e política. Pensar assim é cometer uma monstruosidade intencional com o entendimento. A lei que me regula precisa ser a lei que regula todos os níveis sociais, sem exceções. 
         Por não ser santo é que preciso de leis. Ninguém que vive por estas paragens é santo, então...
        



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