sábado, 29 de maio de 2010

Espiritismo, e loucos de hospício



A organização do espiritismo como doutrina, foi motivada por três perguntas: de onde viemos? O que estamos fazendo aqui? Para onde vamos? Para explicar essas três perguntas, precisamos nos apoiar em três fundamentos: a ciência, que nos explica racionalmente as relações de causa e efeito dos nossos atos; a filosofia, que nos propõe uma análise de perspectivas sobre estes atos; e a religião, que nos insere num contexto universal, como criaturas, e não criadores.

Algumas pessoas podem pensar que a doutrina espírita é baseada na mediunidade, na crença na reencarnação e na vida após a morte. Esses assuntos fazem parte da doutrina, sem nenhuma dúvida, e desempenham um papel importante no cabedal de conhecimentos necessários para entender a vida através do seu ponto de vista. Porém, a importância maior sempre será oferecer instrumentos ao ser humano para conquistar melhorias éticas e morais na sociedade em que se insere.

Os céticos costumam achar absurdo acreditar em espíritos, ou teorias que não podem ser provadas na prática, através dos instrumentos da ciência acadêmica. Os céticos não acreditam em Deus, normalmente, e, se fosse pelos obstáculos que colocaram até hoje no desenvolvimento humano, talvez ainda estivéssemos curando doenças com sangrias, afinal, as sanguessugas podiam ser vistas com nossos próprios olhos. (sei que é um exagero, mas a linha de pensamento é coerente).

Não tenho a intenção de levantar bandeiras proselitistas, muito pelo contrário, sou totalmente favorável ao pensamento de Paulo de Tarso: tudo me é lícito, mas nem tudo me convém. Por isso, essa postagem não tem interesse de abrir uma nova linha de discussão com os céticos, ou contrários a esse pensamento, como aconteceu na postagem e comentários do blog pensar não dói (linkado ao lado). No entanto, de alguma maneira me senti na obrigação de revelar aqui minhas “crenças”. Falo crença, na falta de uma palavra melhor, assim como não há instrumentos melhores, ou eficientes, segundo os céticos, para provar alguns fenômenos psíquicos, ou paranormais. O instrumento que temos são as pessoas. São as pessoas sérias, que trabalham sem interesse maior que não o próprio desenvolvimento como ser humano, e daqueles a quem possam influenciar. Pessoas que não vão se interessar em ganhar um milhão de dólares pra provar que mediunidade é fato, por que já aprenderam que a moeda humana não é um bom indexador evolutivo. Pessoas que não fazem sensacionalismo, nem transformam o espiritismo em meio de vida, nem se aproveitam das pessoas sugestionáveis. Que trabalham quase no anonimato pelo bem. Pessoas que têm algo mais a fazer do que se preocuparem em provar alguma coisa para os que têm a tendência a enxergarem apenas o que lhes convém. Ou de provar fenômenos para os que se colocam acima. Acima do quê? Acima, basta.

É claro que sempre vai existir os que fazem tudo ao contrário e, desta forma, fornecem lenha aos eternos inquisidores em seus pedestais de sabedoria. Faz parte da evolução coletiva. É bom deixar bem claro que não devemos apoiar nossas convicções apenas no que presenciamos ou ouvimos, bem como é preciso saber o que se lê. Há uma imensa literatura séria e de qualidade, e muitos bons exemplos de trabalho no campo espírita, desde que essa doutrina foi organizada, tanto aqui, como fora, embora, às vezes, usando outros rótulos, e talvez até outros métodos. Mas também há muita gente se aproveitando para ganhar dinheiro com isso, infelizmente. Com certeza, esses não são espíritas, ou são espíritas superficiais.

Eu trabalho com mediunidade. Trabalho com um grupo mediúnico há 23 anos, que se reúne toda semana e não é aberto ao público, embora não seja fechado a novos participantes. Não vem ao caso citar as quase inumeráveis provas da reencarnação, mediunidade, e, óbvio, vida após a morte física, que tive neste tempo. Tampouco listar a quantidade de pessoas que foram ajudadas através do trabalho anímico/mediúnico que desempenhamos, sendo que, na imensa maioria dos casos, sem saberem que estavam sendo ajudadas (para que não venham dizer que o efeito foi movido pela sugestão do pensamento). Os participantes do nosso grupo não são loucos, nem são aproveitadores da fé alheia. Somos poucos em atividade sempre, porque nossa estrutura não comporta uma quantidade maior de pessoas, mas, nesse tempo, muitas pessoas passaram pelo grupo. Pessoas normais, de todos os graus de instrução e situação social. Humanos em evolução, aprendendo a transformar suas vidas para melhor, através, principalmente, do conhecimento de si mesmos que a doutrina espírita propicia.

Quando assisti, recentemente, o filme do Chico Xavier, fiquei bastante emocionado, não por rever os fatos marcantes da sua vida, mas por ver vir a público, com bastante seriedade, o que fazemos no anonimato por todos esses anos, guardadas as devidas proporções evolutivas.

Eu tenho 4 romances publicados (ao lado). Um policial, um infanto juvenil e dois embasados diretamente no conhecimento espírita. O último deles, Paris, setembro de 1793, foi publicado pela Editora Lachâtre, uma editora bastante respeitada no meio espírita, que conta com autores como Hermínio Miranda, Luciano dos Anjos, Lígia Barbiere Amaral, Paulo Henrique de Figueiredo, entre tantos (e são muitos), autores sérios, e normais. A Editora Lachâtre tem uma característica interessante, a de ser contestadora no próprio meio espírita, principalmente diante dessa corrente literária exploradora e monetarista que assomou o público nos últimos anos, com tanta auto ajuda camuflada de obra mediúnica, ou mesmo espírita, mas que só visa interesses financeiros. Se alguém tiver interesse em constatar isso, basta acessar: http://www.lachatre.com.br/editora.php.

Atualmente estou escrevendo mais um, com enfoque em determinados aspectos do século XIX, como as profundas transformações sociais, principalmente originadas dos movimentos socialistas, assim como os efeitos de novas ciências médicas que começaram a ser aplicadas na época, como o Mesmerismo e a Homeopatia, tão ricamente atacadas pelos céticos de todos os tempos.

Quando penso muito nos céticos da ciência e da relação de soberba que alguns têm diante do espiritismo, não consigo deixar de lembrar de uma piada antiga, sobre a conversa de dois loucos num hospício:
- Cara, descobri quem eu sou...
- E quem você é?
- Sou Jesus Cristo!!
- O quê? É louco mesmo... de onde tirou essa idéia. Quem foi que falou isso?
- Foi Deus...
- O quê? EU não falei nada disso....

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Benoît Mure e os tropeços da pesquisa

Algumas pessoas estranham que estou postando pouco no blog. Essas mesmas que a gente se surpreende quando sabe que nos lêem e não deixam comentários, por que não gostam, ou são tímidas para comentar. Então explico que não é apenas preguiça, embora também seja.
Estou escrevendo mais um romance para a editora Lachatre, passando períodos alternados do tempo, entre o agora e o século XIX, em Althen des Paludes, sul da França, Bruxelas, Calais e Curitiba, e estou esbarrando em entravos curiosos nas minhas pesquisas. O século XIX foi de transição de tecnologia. Por exemplo: por séculos a navegação foi com veleiros e remos. Mesmo que os desenhos das naves mudassem, a propulsão era essa. No século XIX aparece o motor a vapor e, como nos nossos tempos alguns já viam filmes em dvd enquanto outros ainda viam em vhs, naquele tempo muitos viajavam em barcos a vapor, outros em barcos mistos, outros em veleiros antigos. Mas o que dificulta isso no processo de pesquisa? Muito. Se eu disser que um personagem cruzou o atlântico em 1840, que tipo de barco ele usou? Parece simples mas não é.
Faz mais de um mês que estou procurando referências sobre o Eole, um barco francês que trouxe Benoît Mure para o Brasil, e encontro quase nada. Agora recebi um artigo do Arquivo Histórico Nacional contendo um estudo sobre os movimentos migratórios franceses para o Brasil, na esperança de encontrar alguma referência, e nada. Alguém pode dizer: passa por cima disso e conta tua história, afinal, você é um ficcionista. Tudo bem, até posso fazer isso, mas, vai perder muito do encanto e uma das partes fascinantes da ficção é essa aproximação com a realidade. Para poder se aproximar de alguma coisa, esta coisa tem que ter existido de fato. Do contrário fica vazio. Se alguém tiver alguma pista sobre o assunto, ficarei muito agradecido.
Benoît Mure era um médico homeopata e utopista, seguidor de Fourier.* François Marie Charles Fourier (Besançon, 7 de Abril de 1772Paris, 10 de Outubro de 1837) foi um socialista francês da primeira parte do século XIX, um dos pais do cooperativismo. Foi também um crítico ferino do economicismo e do capitalismo de sua época, e adversário da industrialização, da civilização urbana, do liberalismo e da família baseada no matrimônio e na monogamia.
O caráter jovial com que Fourier realizou algumas de suas críticas fez dele um dos grandes
satíricos de todos os tempos. Propôs a criação de unidades de produção e consumo - as falanges ou falanstérios - baseadas em uma forma de cooperativismo integral e auto-suficiente, assim como na livre perseguição do que chamava paixões individuais e seu desenvolvimento, o que constituiria um estado que chamava harmonia.

(wikipedia, mantive os sublinhados)

Veio para o Brasil com a intenção de criar um falanstério e o criou. O falanstério do Saí, em Santa Catarina, próximo a São Francisco do Sul. Por vários motivos não deu certo. Depois de fracassada a tentativa, Benoît voltou para o Rio de Janeiro e fundou o Instituto Homeopático do Brasil, já que era discípulo direto de Hahnemann.

Outra curiosidade na pesquisa: para dar um tiro em 1840 passei alguns dias pesquisando. Até aquela época as armas de fogo eram carregadas pelo cano, mas, neste período apareceram as armas com retrocarga (alimentadas pela culatra), e logo surgiu a espoleta de percussão. Num perído de aproximadamente 30 anos, muitos séculos foram engolidos.

Então é por isso que tenho postado menos. E se alguém tiver algum material sobre essa época, de qualquer natureza e que ache interessante, fico grato por me mandar.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

................a chuva e a eleição....................




O livro Paris, setembro de 1793 foi lançado em 2008, duas semanas após os cataclismas que abalaram o Estado, principalmente com a enchente de quase toda Itajaí e os deslizamentos de terra em Blumenau e cidades vizinhas. Aqui no blog mesmo tem explicações do motivo do lançamento não ter sido adiato, em postagens da época. Naquela noite (é de praxe o autor da obra lançada usar da palavra) falei ao público presente, pequeno, devido às circunstâncias, sobre o que podia ser feito para minimizar as situações catastróficas como as que havíamos passado. Obviamente direcionei a solução para o âmbito do poder público e, como também é quase óbvio, o assunto foi parar em eleição. Porque não tem como encontrar soluções para problemas de tamanha magnitude sem um esforço muito, mas muito grande, das pessoas que são como nós, mas que por nós são transformadas em autoridades através do voto. Na época eu pedi para que cada um presente, e por estar tão vívida a tragédia, não esquecesse de avaliar qual era a proposta de seu provável canditado em futuras eleições, em relação à solução dos problemas causados pelas intempéries, tão recorrentes nos últimos anos. Tem eleição se aproximando. Ontem caiu o maior toró quase no Estado todo. A BR 101 está interditada em Palhoça. Tem casa embaixo dágua e morro se derretendo. Tudo continua na mesma em termos de prevenção, mas, não podemos condenar, esses políticos que estão no poder, já estavam no poder antes disso começar. Como poderiam propor projetos para solucionar coisas que ainda não haviam acontecido? Talvez alguns só nasceram depois de 1982 mesmo. Mas tem eleição chegando e eu sei que a minha proposta particular de não votar (e não vou votar mesmo. Explicações em postagens anteriores e no "cágado xadrez", em postagens e comentários) não vai vingar e os candidatos como nós serão eleitos e empossados como autoridades populares, mas, qual deles trará em sua bagagem de projetos salvadores da humanidade brasileira, uma proposta para minimizar os efeitos dos cataclismas que estão nos assolando? Ainda mais que agora não é só sul que sofre, a cidade olímpica e a paulicéia estão no mesmo patamar de consideração midiática. E olha que o nosso maior problema é água e vento. Vulcões, terremotos, tsunamis e tornados (que têm medidas minimzadoras de efeitos por governos menos demagogos) ainda não são comuns por aqui.
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foto do clicrbs, BR 101(19/05/2010)
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